quarta-feira, 18 de abril de 2012

II - 18/04/2012

 - Onde você se meteu? – Perguntei, antes que ela começasse o falatório.

 - Eu estava no meu quarto, onde mais?

 Dessa vez ela não iria me enganar com aquele sorriso de uma ponta a outra. – Eu te segui ontem, Alicia! Vi você entrando no banheiro, depois... – Eu hesitei em falar o resto, mas estava decidida... Queria a verdade.
 
 - Depois vi uma luz estranha saindo do banheiro e quando entrei, você tinha desaparecido. – Me arrepiei só de lembrar aquela cena.

- Você me seguiu? – Perguntou surpresa.
- Claro! Você saiu do refeitório parecendo um foguete... Fiquei preocupada.

 - Mas eu fiquei no banheiro. Já dessa luz estranha eu não sei do que se trata, por que fiquei dentro da caixa verde onde fica o copo grande de fazer xixi.
- Você...Não... Ficou no banheiro. – Falei cada palavra bem devagar e com precisão.


 - Eu... Estava... Sim! - Repetiu da mesma forma. - Vi quando você entrou. Fiquei escondida na caixa verde que estava cheia de vassouras, só tranquei a porta e subi no copo grande morrendo de medo de pisar naquela água que tem dentro.

 Vendo meu silêncio ela continuou. – Depois eu vi você saindo, esperei um pouco e fui correndo para o meu quarto.

 - E o que levou você a se esconder de mim?
- Acho que aquela gosminha vermelha que a gente estava comendo não me fez bem! Eu senti vontade de botar tudo para fora e fui correndo. Isso é tão nojento de vivenciar, imagine de olhar. – Falou com nojo


 - Poderia ter pedido ajuda que a gente te levava para o posto médico do campus.
- Eu fui no outro dia de manhã, agora estou melhor do que nunca. – Falava de modo engraçado. – Mas estou aqui para você me passar tudo que perdi da aula de hoje


 É claro que eu não engoli aquela conversa fiada, a cara que ela fez quando eu disse que a segui foi a prova, mas eu já aprendi uma coisa nesse tempo que estou convivendo com a Alicia... Paciência é uma virtude, e eu tenho que esperar o momento certo.

 Para piorar, tinha me esquecido do trato com o Gustavo. Como era sexta-feira, dei um jeito de colocar um bilhete debaixo da sua porta, avisando que no outro dia bem cedo iríamos ensaiar.

 E como uma professora exemplar, eu estava lá na hora marcada, já ele...

 - É algum tipo de vingança marcar isso às oito horas de uma manhã de sábado? – Foi a primeira coisa que falou assim que entrou na sala de música, quase uma hora depois do combinado.
- Absorvemos o conteúdo com mais facilidade nas primeiras horas da manhã. – Disse com deboche. – É melhor começarmos cedo, pois terminamos cedo.
Isso não era uma mentira... 


 - Faça como quiser. Eu dei uma olhada nesse texto ontem, e cá entre nós... Isso é queimação geral! O que aquela criatura estava comendo quando escreveu isso?
- É uma história de amor, como qualquer outra. E você como o personagem principal, precisa se dedicar. Podemos começar? 

 Confesso que achei que ia ser mais fácil, só que o colega não estava cooperando de forma nenhuma. Parava diversas vezes para reclamar do texto, ou que não ia falar uma determinada frase por achar “gay demais”.

 Quando estava se aproximando do meio-dia, achei mais seguro parar. – Pronto! Acho que por hoje já chega. Podemos marcar a próxima para depois de amanhã?
- Fazer o que né? Eu tenho outra opção? Ou você acha que já sou um ator nato de Hollywood?

 - Não tem outra opção! – Resolvi fingir que ouvi apenas a primeira indignação. - Então está marcado, nos encontramos aqui depois da aula.

 Ele não falou nada diretamente para mim, mas saiu resmungando. – Eu tenho certeza que fui uma assassina em outra vida para merecer isso agora.

 Depois de verificar que estava tudo em ordem na sala da turma de música, resolvi voltar para a república.


Mas quando estava saindo, vi o Raul parado contemplando a piscina. 

 Lembrando o vexame que foi quando nos conhecemos, resolvi falar com ele.

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