Cap. 1 - A novata da república

Querido diário, hoje volto para a republica para enfrentar mais um semestre nessa loucura chamada universidade. Agora é o segundo período e a pressão só aumenta. Tia Mylla me disse que é assim mesmo, se a pessoa pretende ser alguém na vida ainda mais quando essa pessoa é pobre, precisa estudar e batalhar bastante.

Estou com saudade dos meus amigos, a Fabi foi para Villa Fiori passar as férias com a família e o Mateus foi para o exterior com o irmão, nem sei se eles já chegaram, já que a primeira coisa que fiz quando cheguei foi colocar minha mala no canto do quarto e escrever em você. 

Tive que chegar um dia antes de todos para renovar meus documentos da bolsa de estudos, e olha que a diretora Célia pediu tanta coisa... Quase perco minhas férias procurando tudo, ainda bem que a Tia Mylla me ajudou... Precisei ficar hospedada no hotel do campus, pois a república só foi aberta hoje. Isso me lembra que estou em falta com você, quase não escrevi nas férias, mas prometo que vou lhe colocar em dia, pode deixar...

Agora preciso dar uma paradinha, estão batendo na porta. Tomara que seja a Fabi. Beijos.

Larguei o meu diário na escrivaninha e corri para a porta, quando abri tive a comprovação da minha suspeita... Era mesmo a Fabi.

- Achei que ia me deixar esperando até o próximo semestre, dona Cecília. - Disse me dando um abraço bem apertado.
- Eu estava distraída com o meu diário, não ouvi quando bateu. - Fui sincera, se bem que essa é uma qualidade que não sai de mim, gosto de ser verdadeira em tudo, principalmente quando se trata dos meus amigos que são tão poucos. 

Ela entrou no meu humilde quarto e voltou com a conversa. - E então? Como foram as férias? Liguei para sua casa e a Tia Mylla disse que você já tinha voltado.
- Pois é, esqueceu que sou bolsista? Precisei renovar meus documentos e apresentá-los até ontem na faculdade, pura burocracia... E as suas férias como foram? 

- Ótimas! Passei na serra mesmo, foi bom porque não tinha tanta neve assim, deu para aproveitar mais.
- Que bom! - Eu só conhecia a Fabiana há seis meses, mas era como se já tivesse conhecido há anos, ela era de uma família muito respeitada em Villa Fiori, uma cidade vizinha, e era uma pessoa maravilhosa, já que me ajuda quando o assunto é relacionamento entre pessoas, se eu pudesse me escondia de tudo e de todos. 

 - Vim te chamar para almoçarmos, tenho certeza de que não comeu nada que preste desde ontem.
- É verdade. - Disse rindo. - Já que minha "conselheira alimental" não estava presente.

 Saímos do quarto em direção ao refeitório que ficava no primeiro andar da republica.

  
- Conselheira alimental? Essa foi boa! Nunca ouvi essa “profissão” antes. - Disse assim que entramos no refeitório.
- É, mas também não sei o que é isso. Achei bonito na hora. – Até eu estava achando engraçado a minha piada totalmente sem noção. 

Mas a brincadeira perdeu a graça assim que botei meus olhos no recinto, pois avistei a pior turma que já vi na vida. Eles eram da mesma sala que eu na faculdade de direito e até hoje não sei o que estão fazendo lá.

- É melhor sentarmos naquele canto, Fabi. - Fui mostrando o local correto para não ter que falar com aquele povo chato. A minha melhor amiga não disse nada e foi me seguindo, mas senti que ela os fuzilava com o olhar.

Assim que passei por eles, comecei a ouvir as piadas na qual já estava acostumada. - Bonito vestido, santinha. - Verena falava praticamente gritando como seu eu estivesse no México e ela no Japão.

- Obrigada. - Era o que eu me limitava a dizer, não conseguia falar mais do que uma palavra para aquela garota e toda sua trupe. Só que ela sabia disso e se deliciava ainda mais com a minha reação. Parece que fazia aquilo para me provocar e a gente brigar, já que ela sabe que sou bolsista e posso perder tudo se sair do sério.

  

- Depois me fala em qual brechó você pegou, eu vou querer uma dessas para minha avó. - Continuou enquanto eu já começava a andar com a Fabi em direção a mesa. Nisso eu ainda conseguia ouvir a risada de todos ao redor dela.

- Eu não sei como você aguenta isso, Cecilia. Se fosse eu, denunciava todos para a diretoria.
- Deixa para lá... A melhor resposta é aquela que não se dá. - Tentei passar desprezo, mas eu sabia que não estava conseguindo, já que a Fabi me repreendia com o olhar. 

 - Você vai querer o quê para almoçar? - Perguntou em uma tentativa de mudar o assunto.

- Deixe-os saírem dali que a gente vai pegar nossa comida, pode ser?

- Claro. - Respondeu indignada. 

A turma saiu depois de meia hora, um a um, todos andando feito uma tartaruga foram saindo do refeitório, Verena agarrada com sua amiga inseparável e completamente patricinha Marcela, as duas nem moravam nessa republica, mas viviam aqui por causa do namorado da loira. Esperei mais uns dez segundos e fui pegar nosso almoço.

O nome dele é Gustavo, adora uma bagunça. Arrogante e preconceituoso se acha o maior da faculdade, mal sabia que o único público que ele impressionava era o dele mesmo.

- Não se importe com isso, Ceci. Nenhum merece nossa atenção, esquece e vamos almoçar em paz.
- Você tem razão. Vamos comer em paz. - Respirei fundo e resolvi voltar minhas atenções para o delicioso prato na minha frente. 

  

- Quer dizer que já estão comendo e nem me esperaram, não é? 

Me virei rápido para encarar o dono daquela voz bastante conhecida e quase morri de felicidade. Era o meu melhor amigo, Mateus que tinha acabado de entrar no refeitório com a mala no chão e um lindo sorriso no rosto.