I - 25/01/2012

 Não aguentei e corri ao seu encontro, estava com muitas saudades do meu amigo.

 - Como você não avisa que já tinha chegado? – Falei ainda terminando nosso abraço.
- A única coisa que supera vocês duas é a minha fome. Tinha que matar quem estava me matando primeiro. – Ele riu da própria piada. Essa era uma das mil qualidades do Mateus... Sempre estava de bom humor.

 - Então pega um prato e venha se juntar a nós.

Agora estava formado. O triângulo completo. Eles eram a minha família a cada seis meses, meu porto seguro, minha verdadeira alegria.

Depois do almoço e de colocar as fofocas em dia, Mateus foi para o quarto tirar um cochilo. Já eu e a Fabiana, preferimos ir para a biblioteca ler algum livro. Bom... Tenho certeza que minha amiga estava ali só para me satisfazer.

  Aos poucos a república ia se enchendo e minha raiva aumentando. Não gostava de nenhum deles, com a exceção dos meus amigos é claro. E se fosse da minha vontade só nós três moravamos ali.

  - Amiga. – Fabi chamou me tirando do mundo particular que entro quando estou ao redor dos livros.
  - Hã?

- Vou subir! Também estou cansada... Amanhã começam as aulas e não quero assistir a primeira sonhando com minha cama.

- Tudo bem! – Disse fechando o livro. – Vou terminar de ler lá no meu quarto. O professor Alberto deu uma lista com vinte livros para ler na primeira semana e estou relendo alguns.

  Esperei ela guardar o dela na estante e saímos. Só assim me dei conta que já tinha anoitecido faz tempo...

Mas a cena que veio a seguir provavelmente tiraria a concentração do maior intelectual da história do planeta.

Uma menina muito engraçada fazendo uma espécie de ioga no meio do salão da república. Parecia não se incomodar com os risos e deboches dos outros moradores ao seu redor, pois estava compenetrada no que fazia.

- Pronto! Já acharam a chacota do semestre. – Fabiana olhava para a garota que continuava fazendo seus movimentos malucos com um ar de pena e revolta ao mesmo tempo.

  Eu, conhecendo bem o que ela estava falando, decidi me aproximar e tirar a coitada dali o mais rápido que pudesse, mas, claro que não pude deixar de achar a cena no minímo engraçada e curiosa. A vontade de parabenizá-la por estar fazendo aquilo na frente desses chatos e não ligar para os comentários e risos merecia um oscar.

Em meio aos gemidos e suspiros na tentativa de tomar o ar, eu a chamei! – Ei! Garota! Levanta... Vamos conversar.

   Lentamente, ela foi se levantando, mas ainda fazia as poses malucas.

 Depois de meio segundo ela parou e abriu os olhos. – Oi! – Me cumprimentou com um sorriso bem largo.

  - Er...Oi! Bom, você é novata? – Tentei puxar um papo. Os observadores saíram de perto desejando me matar por ter encerrado o show.

- Não... Eu não sou daqui. – Respondeu ainda com o mesmo sorriso no rosto. Ou será que estava rindo de mim?

  - Se não é daqui, então é novata... – Que tipo de conversa mais doida que estava tendo? – É de qual cidade?

- De bem longe. – Agora ela não estava me encarando com aquele sorriso engraçado, mas olhava completamente sem foco e um pouco triste. Resolvi não falar mais em relação a moradias. Eu nunca fui muito boa em fazer novas amizades, e aquela menina não estava colaborando.

Nisso, minha salvadora resolveu aparecer e tomar de conta da função “boa gente”. – Oi, tudo bem? Meu nome é Fabiana e o seu?
- Eu sou Alicia, cheguei hoje e vou estudar aqui. 

Fiquei observando as duas conversarem, agora a menina estava completamente solta e falava aos cotovelos. É... Eu realmente não sei fazer amizades...